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Provador à prova

Recentemente, entrei num provador. Esse lugar que, para a maioria de nós, mulheres, é um portal para um lugar obscuro da nossa autoestima. Paradoxalmente, lá, a luz externa pode ofuscar e até apagar a interna de quem o adentra.

A intenção desse lugar é experimentar roupas, mas vai muito além disso. Diversas campanhas de publicidade estão dispostas para as marcas que têm sensibilidade o bastante para sacar as mulheres que, independentemente das suas tantas diferenças e nuances, têm muito em comum, como a vulnerabilidade que esse lugar causa.

Pois bem. Me flagrei, aos 32, sendo objetiva no provador. Entrei, me despi e em vez de conferir cada centímetro de excesso (nunca foi falta), eu apenas me vesti e provei as roupas. Quando percebi o automatismo do meu comportamento, dei ré em todos os momentos em que estive em um provador na infância e na adolescência. Às vezes, agradável, mas na maioria das vezes, desagradável por não sentir que estava com tudo ‘ok’ no reflexo.

Sabe o que deveria ter em todo provador além de uma luz direta que favoreça as faltas ou excessos? Recados. Lambes-lambes de elogios gratuitos e fortuitos para a pessoa ter a plena certeza de que está tudo bem. E, se não está, pode ficar. Me questiono se os homens vivem o mesmo drama. É uma boa ideia de reportagem, inclusive: ir à porta do provador masculino de uma loja de departamento e questionar os rapazes isso. Mas já sabemos que têm pouca autonomia de escolha. Afinal, na bancada de todo provador masculino, estão as cônjuges para julgar o look do parceiro do lado de fora. O mesmo não acontece. Os homens aguardam as mulheres mexendo no celular sem preocupação de consulta. Isso acontece quando, na relação, existe uma intimidação e censura quanto à vestimenta. Resquícios de uma cultura de posse que outrora tinha vez. Agora, não dá nem pra falar tanto porque o que não merece importância não deve ter atenção, e comportamentos abusivos são um desses assuntos.

Mas, voltando ao que importa. O provador é, assim como o banheiro feminino, um lugar de encontro, partilha e entendimento da vulnerabilidade feminina. Lá nós permitimos que a competitividade que assola nossas relações umas com as outras caia por terra e tudo que nos resta é apresentar uma à outra, nossa maior inimiga: nós mesmas. É um lugar de cura, se bem intencionado. Na dor, nos reconhecemos e nos entendemos. Quantas vezes uma mulher influenciou a outra a comprar – ou não – uma peça de roupas? Entre pitacos e trocas, histórias são contadas e até amizades, formadas.

Em suma: um provador nunca é só um provador. É um portal energético que nos leva a nos reconhecer, reencontrar e reestabelecer. É a afirmação de uma identidade, de uma mudança ou de uma revolução. Desejo que toda mulher que entre num provador se prove que, não importa qual pela for, o melhor look será o autoamor.

 

 

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