Essa frase de duplo sentido inspira o tema desta crônica, após um final de semana com o “Dia do Amigo” (data comercial, mas bem especial) celebrado. Peguei-me refletindo sobre o que as pessoas que preservo no meu ciclo de intimidade e compartilhamento de alegrias e tristezas dizem sobre mim. Isso também me levou a pensar sobre o que é, de fato, amizade, essa relação com tantas nuances e, cá pra nós, pouca diferença entre um relacionamento amoroso conjugal, caso você se permita viver uma amizade íntima, profunda e intensa.
O que diferencia as duas relações é o eros. O sexo. Afinal, paixão, ciúmes… isso existe nas amizades. No início dessa relação basilar, existe a conquista, o encantamento, a prioridade, a convivência intensa. A partilha. Há quem tenha mais intimidade, convivência e vulnerabilidade com um amigo do que com seu cônjuge. Quem sabe, o sexo é uma intimidade superestimada. Afinal, a entrega mental ou espiritual pode ser feita de outras maneiras além de corpos nus – esses que nem sempre estão completamente despidos na entrega.
Mas, voltando ao repertório de amigos. Acho que o que minhas amizades dizem sobre mim é que sou eclética, autêntica, livre de julgamentos, aberta ao novo, amorosa e leal. Ok, dramática, caótica, confusa e com tendências anárquicas também. Vejo-me tendo amizades de diversas espécies. Umas, inclusive, são opostas. Acredito muito no poder que a convivência tem de nos ensinar sobre tolerância e respeito por meio das diferenças, por mais desafiador que isso seja. Se eu juntar meu grupo de amigos atualmente, sei que alguns subgrupos podem se formar nesse encontro, mas sei que, de forma geral, a maioria iria se colocar em um lugar de disposição social para conhecer o novo. Eles sabem que eu amo apresentar e conectar as pessoas umas às outras e, como diz a máxima “conheço meu eleitorado”, o contrário também acontece: eles conhecem a amiga-eleita deles e por eles.
Quanto ao outro significado, sei bem o que meus amigos falam sobre mim. Já fiz exercícios terapêuticos em que você pergunta para “os seus” sobre “seus maiores defeitos e qualidades” etc. Já soube também o que foi falado sobre mim quando saí do recinto. Meu “branding” pessoal é, por vezes, admitido por alguns amigos que relatam opiniões deles mesmos e de quem me conhece. E eu espero ouvir também as coisas não-tão-boas-de-serem-escutadas. Essas que, quando ditas, falam muito mais sobre a verdade presente nas amizades, a partir da sua intenção e forma de serem partilhadas.
Aos 32 anos, entendi que a vida nos apresenta amigos por temporada, para diferentes fases da vida e ocasiões, que identificação e sintonia independem do fator tempo e frequência de presença física. Por isso, vou finalizar esse texto vislumbrando um futuro em que todos envelheceremos juntos, num asilo onde haverá uma estrutura física e emocional para nos bastarmos na alegria de conviver. Lembrando o Drummond: “a perene, insuspeitada alegria de com-viver”.
Já perdi as contas das vezes em que recebi de amigos e queridos “conhecidos” (que carinhosamente apelido de ‘amigos em potencial’) sobre essa tendência entre os idosos, de asilos feitos por grupos de amigos para findarem suas existências juntos. Isso porque, desde que entendi que a vida não ocorre de acordo com nossas expectativas, a solidão é uma possível realidade para muitos na velhice, e muitos a temem.
“Quem vai cuidar de mim?” Por ter ouvido esse questionamento diversas vezes, afirmo que construirei esse lugar para estarmos todos convivendo numa espécie de grande república dos que estão com o pé na cova. Finalmente, iremos gozar de momentos sem muitas preocupações ou ambições, apenas desfrutar das companhias uns dos outros, recordando bons momentos e vivendo um presente cujo único objetivo é estar em paz com o que se viveu para receber a morte de braços abertos. Ok, não preciso idealizar algo tão bonito assim. Mas espero não viver com tanto drama no final da vida, pois até lá, a existência em si já tem sido bastante cobrada.
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