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“O que tu acha que faz as pessoas terem medo de interagir com alguém que mora na rua?”

"O que tu acha que faz as pessoas terem medo de interagir com alguém que mora na rua?"

...perguntou meu amigo na ligação na qual eu relatava a experiência vivida há algumas horas, uma ação social para fornecer café da manhã para homens (em sua maioria), mulheres e crianças em condição de vulnerabilidade social.

A reflexão que ele me fez ter pode ser representada (não) coincidentemente pela foto da capa desse carrossel. Logo após sair andando de volta para casa, à caminho do metrô, vi esse relógio localizado no Centro de SP, no bairro da República. Ali, o tempo, literalmente, parou.

E o que isso tem a ver com pessoas que moram nas ruas e o quanto a bolha social de cada um teme a aproximação? Esse medo vem do pré-julgamento que fazemos de que aquela pessoa, por estar naquela situação, fez por onde, fez por merecer. “Deve ser alguém perigoso, ou ruim…” enfim, alguém que tem uma HISTÓRIA para estar ali. Mas, sabe o que eu concluí? Muito pelo contrário.

Se você se dispuser a escutar essas pessoas, vai saber que muitas delas estão ali por um looping que se justifica de acordo com a crença de cada um. Pode ser por um fator espiritual, reencarnatório que se reflete no socioeconômico (a repetição de padrão: a pessoa que viveu isso vai viver de novo e de novo até “aprender a lição”), injustiça social pelo sistema socioeconômico, política mal aplicada, ou, tudo junto e misturado (e um justificando o outro). Bem, não cabe a mim trazer justificar a causalidade dessa tragédia. O que quero é compartilhar o que eu, das diversas vezes que troquei com pessoas que moram nas ruas, entendi.

Muitos sofreram traumas, perdas irreparáveis, acidentes, infelicidades, tragédias. A droga pode ter sido porta mas também é pilar de sobrevivência para conseguir se manter em pé diante de uma vida tão difícil e cruel. Mas uma coisa eu posso garantir: muitos deles têm sua autoestima e senso de autovalorização nulo. Sabe a insegurança, carência, baixa autoestima e sentimento de incapacidade ou “fracasso” que você e eu temos vez ou outra? As dorzinhas das dificuldades das relações pessoais, profissionais…

Multiplique dezenas disso e… “é sobre”. Eu queria só dizer que se cada pessoa se permitisse e tivesse a CORAGEM (e discernimento, bom senso e sensatez no pacote, claro) de furar sua bolha e se conectar com pessoas da mais difícil e diferente realidade, o mundo estaria BEM* melhor.

Como disse Drauzio Varela, médico e escritor que tanto me inspira, e que, em seus livros, narrou exatamente o que penso e sinto: que graça tem estar com pessoas IGUAIS à você? Você já CONVIVE com elas. Escolha ter, pelo menos, uma parcela mínima do seu tempo pro que não te é familiar ou comum para que você pelo menos aprenda sobre o que realmente é o mundo. Essas não foram as palavras literais dele em “Carcereiros”, mas foi a interpretação que fiz ao ler e que carrego comigo onde vou.

Obrigada @deus por essa essência curiosa que me leva a ser feliz exercendo o papel de jornalista-antropóloga-psicóloga comportamental no rolê da vida. Nos valores que me foram ensinados e que restabeleci, riqueza é ver no outro aquilo que não se acha em si. E mais: tempo, atenção, afeto e boa intenção são, muitas vezes, mais valiosos que dinheiro. Escutar um “eu nem lembro quando foi a última vez que conversei com alguém por tanto tempo, moça”, não é algo comum. E ainda mais um “o que é rede social”? Esse questionamento me confirma que, em alguns lugares do nosso espaço-tempo, essas pessoas estão num passado muito distante. E isso é representado pela falta de subsistência, consciência, conhecimento e noção do que, pra nós, é realidade. Isso torna essas pessoas “falhas na matrix” do nosso dia a dia. Elas estão como avatares da realidade que estamos, sendo que SOBREVIVENDO em outra. São muitas realidades coexistindo. E não está tudo bem.

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